Talvez tenham passado duas semanas espectacular com o Alive, uma semana a acampar em Peniche, surf a toda a hora, avarias no computador, feiras medievais, reencontros e idas ao centro de Portugal. Mas no entanto experienciei o qe nunca pensara que podesse acontecer ao pé de mim. Nem sei como começar este "desabafo", algo que tem de sair de dentro de mim, algo estritamente confidencial, algo que não sai de um grupo pequeno de pessoas que não se atrevem a tocar no assunto.
Lembro-me da primeira vez que ouvi falar nela. Tinha entrado a meio do ano para a turma da Ém aparentava ser inteligente mas uma p***. Entretanto houveram confusões, a Ém chegou a dar-lhe um bom encherco de porrada devido ao seu mau temperamento, pouca paciência para quem não conhece, por aí fora. Acabou por se descobrir que a miúda tinha uma lista de problemas enormes, um curriculo de hospitais psiquiatricos impressionante e uma quantidade pesada de comprimidos a tomar para a sua idade.
Aos poucos a rapariga começou a fazer parte das nossas tardes e a tornar-se nossa amiga.
A nossa nova amiga esteve sempre ao nosso lado, ajudou-nos em momentos cruciais da nossa relaçao e nós sempre a defendemos. A sua bipolaridade começou a acentuar, os ataques epiléticos diminuiram drasticamente, as coisas estavam a começar a correr bem devido á eterna paciencia da Ém para os seus entes queridos. O pior aconteceu quando ela pela primeira vez desde da sua ida para a grande cidade viu-se sem ninguem. A Ém de descanso no Algarve e eu isolada e fechada na Santa Terrinha. Ao ser vista sem protecção a rapariga foi gozada a extremos, encurralada e espancada por 'conhecidos'. Acho que o tempo parou quando a Ém ligou-me; "A Rapariga quer-se matar (...) não é para chamar a atençao, ela vai fazê-lo, ela vai tomar comprimidos, voltou a ter um crise (...) ligou-me a despedir-se (...)". A Ém ligou á sua amiga de infância a pedir-lhe para correr até ao apartamento, arrombar a porta independentemente de tudo e fazê-la vomitar mesmo se ela não quizesse. Assim foi sempre com a Ém controlar o resgate do outro lado da linha. Foi o mais depressa possivel do Algarve para a Cidade. Talvez tenha sido aí que o verdadeiro susto começou.
A Ém viu que 14 comprimidos foram consumidos de um frasco cheio, comprimidos que era suposto tomar-se uma vez de seis em seis meses. A rapariga começou a ter um ataque epilético, a Ém entrou em piloto automático, agarrou-a, meteu uma almofada atrás da cabeça e pouco depois passou. Algo não estava bem. Ligou-se para o 112 para uma ambulancia e concelhos. a seguir de obrigá-la a beber um litro de leite e mandá-la vestir qualquer coisa ouviu-se um estrondo na casa de banho. Outro ataque e mais uma vez a Ém teve controlo na situação, manteve a calma, fez o que devia. Chegou a ambulancia e a seguir de duas noites a soro e a oxigénio tudo começou a voltar ao normal.
No meio disto tudo não consegui fazer rigorosamente nada. Fui apenas um pilar para a Ém. Ela salvou uma vida. Literalmente salvou uma vida. Eu ficaria parada, a minha velocidade de reacção seria demorada, veria tudo em câmera lenta como num filme, boca aberta e de pés colados ao chão, não fui capaz de fugir das garras dos familiares enfadonhos e fazer algo pela a minha amiga. Sinto-me inútil na verdade. Fiquei espantada com a minha companheira, estou cheia de orgulho. Mas o que é que ela retirou de mim desta experiência? Cobardia de certeza.
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